Antônio de Souza Filho
Meus Escritos
Textos

A Princesa Lorita.

(Contos)

 

É essa da foto, isso mesmo. Hoje ela é Princesa, minha Princesa. Tá tão linda, tão meiga e a cada dia que passa fica mais carinhosa, eu adoro brincar com ela. Quando estou triste, parece que me entende, ela se chega e coloca seu rostinho nos meus pés, e de vez em quando olha pra mim, como que me perguntando, já passou? tá melhor?! E eu volto a ver a vida de outra janela. Com ela meus dias se tornaram mais leves.

 

Mas nem sempre foi assim. A história dela é triste, nem gosto de lembrar. A gente se encontrou num olhar, bem rápido. Eu estava indo pro Fórum da cidadezinha onde estou morando, ia dirigindo devagar o ramal estava enlameado, fazia frio e a expectativa era de chuva forte. Quando estava passando por perto de uma lixeira, algo me fez olhar com mais atenção. Alguma coisa se movia fuçando no meio do lixaral. De repente ela se virou e com olhar triste focou bem nos meus olhos, em seguida baixou a cabecinha, naquele instante eu senti no meu coração, toda tristeza do mundo. Parecia que ela me dizia: - poxa, hoje não tem nada pra mim comer. A chuva começou a cair ela foi se abrigar não sei aonde e eu segui meu caminho.

 

Quando eu estava próximo de finalizar meu trabalho, senti fome ; então perguntei d’um colega: - tá com fome não?! Vamos almoçar eu pago. Ele demorou a responder, aí eu me lembrei da cadelinha e aquele olhar desvalido sem esperança; o colega já ia pra falar alguma coisa, se ia ou não se aceitava ou não, sei lá ... o que eu sei é que eu disse meio espantado: - Ih... rapaz, esqueci uma coisa... amanhã a gente almoça, ele engoliu o que ia dizer e ficou por isso mesmo. E eu pensei: - quer saber, eu vou almoçar em casa. Vou comprar duas quentinhas, se ela estiver por lá eu dou uma pra ela, senão eu guardo e como depois. Mas não deu certo, ela não estava mais onde eu a vi de manhã.

 

No dia seguinte, no mesmo horário, eu no ramal tudo igual, mas naquele local não, ela não estava por lá. E na minha volta também não. Não sei o que senti, uma mistura de coisas tristes. No terceiro dia pareceu cena de filme de horror, quando eu me aproximei da lixeira vi uma briga horrível, quatro cachorros pareciam querer devorar um, havia gritos desesperados de quem está pedindo socorro e querendo fugir. Fiquei furioso, pensei que poderia ser ela que estivesse ali, desci do carro peguei um pau e fui apartar a briga e me deparei com a coitadinha já toda cheia de sangue, com as patinhas pra cima tentando se defender, queria mostrar valentia, mas só chorava, ela estava apanhando muito. Senti vontade de dar uma surra nos covardes, mas todos fugiram, ela também correu, cambaleante e não atendeu o meu chamado. Ainda esperei um pouco, mas ela não voltou. Acho que ficou com vergonha. E eu fui trabalhar.

 

Na volta pro sítio eu contei a história pro caseiro, e ele me disse: - ah, doutor eu sei quem é... ela fica mesmo por ali e só vive apanhando daqueles cachorros dali de perto, ela tá toda pirenta, e continuou dizendo: - eu vi quando um cara, num gol branco jogou ela lá; eu ia passando na moto. Ele abriu a porta e soltou um saco, ela se soltou e ainda correu atrás do carro, depois ficou sentada só olhando ele ir embora.  E concluiu: eu fiquei com tanta pena dela; ­- ele gosta muito de cachorros e cuida muito bem dos oito que tenho. Então eu lhe disse: Ficou mesmo com muita pena dela? - Com a cabeça ele acenou que sim. Aí eu lhe disse: Ok. Então vamos cuidar dela, vamos lá, ela tá aí no carro me ajuda a tirar ela de lá.

 

E foi assim que ela chegou em casa e se tornou a Princesa LORITA, minha princesa e do caseiro, também.

 

......................................

Antônio Souza

(Escritor - Poeta)

 

Música: https://youtu.be/SFpl6gOiHw8

Aceito o Seu Coração - Roberto Carlos Legendado

 

www.antoniosouzaescritor.com

Antônio Souza
Enviado por Antônio Souza em 06/12/2022
Alterado em 16/12/2022
Comentários
O Enigma de Esmeralda R$ 29,90
Site do Escritor criado por Recanto das Letras