Antônio de Souza Filho
Meus Escritos
Textos
Uma fração de segundos...
(Ensaios)
 
Manhã linda... pela vidraça da janela do meu quarto o Sol invadia brilhantemente. Abri as cortinas e vi um dia lindo. Seria mais um de quarentena, isolamento obrigatório por força de um maldito vírus. – Então pensei: - Mas hoje não, hoje nem que a vaca tussa eu ficarei aqui trancado. Desci, fui no escritório e li minha agenda, e como pensei... nada de tão importante que não pudesse esperar outra hora ou outro dia. Voltei p’ro quarto me arrumei e saí p’ra ver o Sol. Peguei a Pick Up e rumei p’ra estrada... a princípio pensava em fazer uma boa caminhada, andar por algum bosque ou coisa assim. Mas o dia, estava além de sua beleza cotidiana; então decidi: - vou lá no sítio, se aqui está lindo, lá está maravilhoso, talvez fique por lá hoje e amanhã, mesmo sozinho.
 
Meu coração se encheu de alegria como se estivesse me incentivando a viver... sim, porque ainda que tenhamos um dia inteiro, se dele não tirarmos uns bons momentos, pouco valerá a pena esse dia. Parei numa conveniência e comprei aquilo que gosto de comer e beber e prossegui a jornada... atravessei a ponte e vi um rio majestoso irradiando beleza na sua cor mais linda, as nuvens ao longe pareciam embalar os anjos, todos formados em desenhos especiais... e ali, por ali, ia eu somente, na estrada vazia, ninguém à minha retaguarda, muito menos à minha frente... eu, minhas músicas favoritas e o esplendor da natureza... como estava lindo. Como estava legal. Cada curva que surgia era uma emoção a mais e eu vibrando, sem pensar praticamente em nada, tão maravilhado que estava por aquele momento.
 
O celular estava no meu bolso, vibrou, eu me assustei, puxei-o p’ra fora, ele escorregou e caiu, desviei a atenção na estrada por uma fração de segundos, nesse instante um pequeno animal silvestre despontou na pista a poucos metros, do meu carro, então rapidamente procurei desviar, mas ele ficou espantado e mudou o rumo o que me obrigou a mudar o meu também e foi assim que fui parar no acostamento, muito próximo de um abismo que fatalmente me tiraria desse mundo para sempre. Ainda no carro vi o pequeno animal se afastar de volta p’ro mato. Então desci e me aproximei do abismo. Arrepiei-me todo, senti que meu boné fora elevado pelos meus poucos cabelos. E foi ali, meu prezado leitor que eu fiquei horas meditando. Pensei de imediato, “vim procurar a vida e quase encontro a morte”. Fui mais longe no meu pensamento. Poderia tê-lo atropelado e nada me aconteceria, mas o instinto da vida falou mais alto e eu amo animais... pensei novamente, graças a Deus, estamos vivos; será que Deus está me mostrando algo?! Enquanto todos estão se recluindo, eu estou desobedecendo... se todos fizessem o que eu fiz essa estrada estaria cheia de carros...
 
Mas, como sempre, prefiro pensar pelo lado bom... abri a porta do carro e deixei que as músicas me envolvessem... sentei no barranco e fiquei apreciando tudo aquilo... embora alto e perigoso, também ostentava uma beleza incrível... comecei então a tomar meu café e calmamente pensava: - não há ninguém a essa hora por aqui... se eu tivesse caído aí pra baixo, não seria de imediato que alguém iria saber, a mata me engoliria e eu morreria sozinho. Continuei... agora conversando comigo mesmo: - É Antônio Souza, quase tu te lasca, já pensou como seria o teu velório?! ... - não teria, porque ninguém sai de casa p’ra nada, muito menos p’ra ir num funeral...., nem teus parentes... rsrsr – e nem adianta pensar que eras bem querido, ou não, - já pensou?! -  é meu prezado, por pouco, nunca mais irias comer aquela feijoada aos sábados como sempre fazes, o churrasquinho de domingo, o banho na piscina... rsrsr ... o tambaqui assado no píer do igarapé... e os teus amigos virtuais, hein?! Que gostas de ler e comentar elogiando cada um... lá o teu amigo Olavo que tu prestigias todo dia nas trovas dele, hein?! Será que alguém sentiria tua falta?! Choraria por ti?! Acho que não... você não é esse cara que faz falta p’ra alguém... e a morena, hein?! Aqueles beijos dela, o perfume de seus cabelos a sua voz macia, dizendo que te ama, hein?! ... rsrsr...  É amigão foi por pouco.
 
Só mais uma coisa Antônio... eu mesmo tentando me convencer de algo. – Não pense que o fato de não teres caído no abismo ou não... foi sorte ou acaso... isso não existe... quando a morte vem, amigo... não tem jeito, podes estar onde estiveres... ela se apresenta e te leva. Queiras ou não. Lembras daquele sujeito que tentou enganar a morte?! – Sim, aquele cabeludo... ele até sabia que ela viria e tentou se esconder raspou a cabeça. Quando ela chegou perguntou pelo cabeludo, disseram que havia sumido, então ela falou: - nesse caso eu vou levar esse careca aqui...  
 
Foi então que eu pensei melhor em tudo que está ao meu redor e quanto sentiria se perdesse, assim, sem mais nem menos. Voltei p’ra casa e pensei em escrever essa experiência.
 
É isso amigos... “coroas”, vamos ser obedientes aos mandamentos. Em casa também podemos desfrutar de bons momentos é só criar. Só sair, se realmente for indispensável... sabemos que todos nós um dia morreremos, mas lembre-se, a morte não dispensa convites.
 
 
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Antônio Souza
(Ensaios)
 
https://youtu.be/09qG_2jTFHs
As vitrines – Chico Buarque
 
www.antoniosouzaescritor.com
Antônio Souza
Enviado por Antônio Souza em 15/05/2020
Alterado em 16/05/2020
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